Wednesday, June 07, 2006
Monday, February 13, 2006
Quisera roubar-te essas palavras e morrer
Trazer-te assim até ao fim do que eu puder
E começar um dia mais eternamente
Por te rever, só
Pudesse eu guardar-te nos sentidos e na voz
E descobrir o que será de nós
E demorar um dia mais eternamente
Por te rever, só
Quisera a ternura, calmaria azul do mar
O riso o amor o gosto a sal o sol do olhar
E um lugar pra me espraiar eternamente
Por te rever, só
Pudesse eu ser tempo a respirar no teu abraço
Adormecer e abandonar-me de cansaço
Quisera assim perder-me em mim eternamente
Por te rever, só
Sunday, January 22, 2006
Thursday, August 25, 2005
Laços
Andamos em voltas rectas
Na mesma esfera
Onde ao menos nos vemos
Porque o fumo passou
A chuva no chão revela
Os olhos por trás
Há que levar o restolho
Do que o tempo queimou
Tens fios de mais
A prender-te as cordas
Mas podes vir amanhã
Acreditar no mesmo deus
Tens riscos de mais
A estragar-me o quadro.
Se queres vir amanhã
Acreditar no mesmo deus
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços...
Andamos em voltas rectas
Na mesma esfera
Mas podes vir amanhã
Se queres vir amanhã
Podes vir amanhã
Tens riscos de mais
A estragar-me a pedra
Mas se vieres sem corpo
À procura de luz
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços...
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
Devolve-me os laços, meu amor!
meu amor... meu amor... meu amor...
tiago bettencourt
Friday, July 08, 2005
Primavera
Todo o amor que nos prendera
como se fora de cera
se quebrava e desfazia
ai funesta primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia
E condenaram-me a tanto
viver comigo meu pranto
viver, viver e sem ti
vivendo sem no entanto
eu me esquecer desse encanto
que nesse dia perdi
Pão duro da solidão
é somente o que nos dão
o que nos dão a comer
que importa que o coração
diga que sim ou que não
se continua a viver
Todo o amor que nos prendera
se quebrara e desfizera
em pavor se convertia
ninguém fale em primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia
David Mourão-Ferreira
Wednesday, May 25, 2005
Atrás da porta
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei
Eu te estranhei
Me debrucei sobre o teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pêlos
Teu pijama
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me entregar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostra que inda sou tua
Só pra provar que inda sou tua...
Chico Buarque
Thursday, May 12, 2005
expiração indevida
No embalo longínquo que se fez
Madrugada no final de noite intensa
Revelada a pressa duma tez
que da alma brotou e foi imensa...
A luz que me cegava (e me cegou)
Ténue, pura, afoita e forte
De leve, num rompante, se apagou
Alumiando a côr de certa morte!
O regaço das chamas estremunhado
Queimou, dilacerou, deixou assim
Todo o meu corpo, o meu espírito abandonado...
Inquebrantável loja de ternura
Fechada para sempre, para mim,
Aberta a idiotice da amargura!